Hebert entropia

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Adeus MTV

      A MTV estreou na TV Brasileira em 1990, a partir daí foi mudado o conceito musical dos jovens. A música era associada diretamente à imagem, o clipe era tão importante quanto a música. As bandas que produziam o melhor clipe faziam sucesso instantâneo: Nirvana, Guns, Red Hot, Aerosmith, Charlie Brown, Pearl Jam, Creed, Metallica, Avril, Justin... 
     Além dos clipes, a MTV inovou a maneira de ver televisão, ela colocou gente que realmente entendia de música, isso fez os jovens serem mais críticos musicalmente, (Fábio massari e o Kid Vinil foram os que mais entendiam de música, o resto nem tanto!); fez programas diferenciados, de maneira informal, tratando de temas polêmicos com leveza, por exemplo o primeiro beijo gay na televisão, com a Fernanda Lima apresentando o programa "Fica comigo", os VJs eram jovens que representavam a época em relação à moda, ao estilo, ao comportamento e ao humor.
      Vários artistas americanos já haviam gravado o Unplugged MTV, ou seja, desplugado, quando em 1991, A Legião Urbana fez o "primeiro" Acústico MTV Brasil, na época foi só um programa de televisão que a banda fez no intuito de divulgar música e imagem sem precisar fazer clipes (preguiça do Renato Russo); anos depois, o formato acústico se tornou um álbum conceitual em que os artistas da música pop nacional já programavam suas carreiras sabendo que um dia selecionariam suas músicas mais famosas e tocariam sem o peso das guitarras.
      O acústico MTV se tornou um divisor de águas na carreira das bandas, um dos melhores, na minha opinião, foi o da Cássia Eller, ela misturou num só show o MPB do Chico Buarque, o Rap do Xis, o maracatu da Nação Zumbi, o rock dos Beatles, Legião, Cazuza, imortalizou algumas músicas do Nando Reis "quando o segundo sol chegar..." e cantou até em Francês. Antes do acústico ela nunca foi reconhecida pela grande mídia, não fazia grandes shows, nem vendia muitos discos,  após o acústico ela ficou imortalizada como uma das maiores interpretes do Brasil (fora a contribuição contra a homofobia).
      O Capital Inicial não fazia sucesso há muitos anos, haviam até se separado e só voltaram para fazer o acústico, o resultado foi incrível, a grande maioria dos jovens sabem cantar todas as músicas, conseguiram o feito de desenterrar o Kiko zambianchi, regravando  "primeiros erros" (e só chove, chove, chove...) e o Dinho está até hoje fazendo protestos no rock in rio com nariz de palhaço.
     A banda Charlie Brown Jr. que foi relembrada por todos devido à morte trágica do Chorão, uma overdose de cocaína em seu apartamento no morumbi, um dos bairros mais ricos de São Paulo (Cadê o escritório na praia?), já estava esquecida há muito tempo, seu último sucesso foi o acústico MTV e a melhor música foi uma regravação do Marcelo Nova, antigo Camisa de Vênus, este que tirou o  Gênio Raul Seixas do buraco no fim da vida, com pouco mais de quarenta quilogramas e lhe deu um pouco de dignidade e reconhecimento.
      Além dos milhares de cd's vendidos com os acústicos, a MTV também revelou muita gente talentosa, vários atores, apresentadores e comediantes que estão espalhados pela TV nacional, Cazé, Marcos mion, Fernanda Lima, Marcelo Adnet, Calabresa, João Gordo, Astrid, Hermes e Renato, Ps Siqueira e até a quase prefeita Sozinha.
     Citando os feitos da MTV, não posso esquecer do peso enorme que a premiação de clipes exercia sobre as opiniões populares. O VMB premiava os melhores clipes do ano, e as bandas premiadas eram as bandas que chegaram em seu auge. O próprio Crioulo, só ficou consagrado como um bom músico, depois de ter ganhado vários prêmios. Paralamas, Skank, O Rappa, Pitty e Restart são exemplos de bandas que, por conta do VMB, ficaram mais tempo do que deveriam nas paradas de sucesso.
     Este canal, tão importante para a música e para a juventude brasileira, pertence, assim como a revista Playboy, à Editora Abril, que, por sua vez,  está falindo, e com isso o canal e a maior fonte de masturbação dos útimos 50 anos vão acabar. 
      Na era da informática, não existe mais espaço para editoras; o papel se tornou algo ultrapassado e sem lucro, pois os leitores finos e, no caso, quem assistia MTV são uma minoria comparada com o número de pessoas que tomam coca-cola ou clicam no clipe de qualquer anitta no youtube! 
     Os tempos estão mudando e, na música brasileira, o maior sinal disto é o fim da MTV.  A tecnologia consegue enviar informações de uma maneira mais fácil e barata a cada dia, com isso, não sabemos ao certo aonde armazenar essas informações, antigamente armazenávamos em discos de vinil, depois de algumas décadas em fitas cassete, mais algumas décadas e já usávamos o CD. Porém, agora a tecnologia não demora mais décadas para se transformar, daqui alguns dias as informações serão armazenadas em nosso próprio DNA e não estou falando de nenhuma ficção científica. Com isso as indústrias fonográficas e os músicos estão sem chão; antigamente eles seguiam uma fórmula,  em um disco cabem 10 músicas, 5 de cada lado, com 5 minutos cada uma, e quanto mais dinheiro eles tivessem para produzir clipes, mais discos venderiam. Agora não existem mais fórmulas concretas de produção e divulgação de música.  Isso é um sinal bom, pois o monopólio das grandes gravadoras manipulavam o gosto popular e lucravam em cima de todo mundo. Mas apesar do mal que as gravadoras causaram, foram elas que descobriram muita riqueza musical. 
      Agora, em meio à mudança dos tempos, fica uma pergunta no ar: Quem irá descobrir os novos Legião, Engenheiros, Raul, Cazuza, Tim Maia, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Cartola? Se fosse há 10 anos atrás, a resposta mais óbvia seria a MTV. Mas com o seu fim, a música brasileira  se tornou órfã e ainda adolescente!


    ps.: Nunca entendi aqueles comerciais!
    ps2.: A MTV não irá acabar, mas irá ser do grupo da MTV de fora: http://www.d24am.com/plus/tv/com-fechamento-da-mtv-brasil-acervo-tem-destino-incognito-com-a-viacom/95883

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