Hebert entropia

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Namoro é igual sapato!



    Namoro é igual tênis, quando você se apega já está todo estragado!
    Com o tempo, o tênis laceia, fica molinho, confortável, toma a forma do seu pé, você sabe aonde deve usa-lo, você sabe com que roupa combina-lo... O calçado fica perfeito! Você criou uma identidade com ele, ele faz parte de quem você é, ele carrega várias experiências da sua vida.  Porém, já está velho e desgastado, até que, logo, fura. Então, começa a entrar água, é uma sensação horrível, suas meias ficam úmidas, a palmilha se torna uma casca fina que só serve pra aumentar o fedor! E vai ficando cada vez  mais feio, as sujeiras nem saem mais, o cadarço já perdeu a ponta e você não consegue colocar no buraco sem se irritar muito, a sola está torta, você deixa evidente o quão ridiculamente você pisa torto, até que ele se desmancha sozinho, quase que virando pó.

    Quando isso acontece, o mais difícil é você achar um substituto, tá tudo muito caro, a moda já mudou e você não se adequou muito a ela, você escolhe com dúvidas, não tem certeza se é aquilo que realmente quer que te acompanhe em suas andanças. A mulher que vende, nunca traz a cor que você pediu, traz uma montanha de caixas que te deixam mais confusos ainda, você experimenta, anda, olha no espelho, mas não é o bastante pra escolher, deveria existir um teste drive, você andar com ele um mês antes de comprar, só assim saberia se ele serve pra substituir o seu velho amigo. Mas você acaba comprando, por pena daquela magrela levando uma torre de caixas, porque você precisa andar sem estar descalço e ele não é tão caro que te da vontade de lutar contra o capitalismo, nem tão barato que lhe causará lesões em seu menisco.
    O namoro é bem parecido, você, com o tempo, vai conhecendo a pessoa, suas qualidades, seus defeitos, nem estes últimos te incomodam tanto, está tudo tão gostoso, você está apaixonado/a até os defeitos não te incomodam tanto, afinal a maior parte do tempo você está pensando em como fazer ele/ela chegar num orgasmo que nunca sentiu antes com ninguém, pra você se auto afirmar, se sentir único/a. Você não quer perder aquela pessoa de maneira alguma, ela te faz sentir uma coisa tão boa, é melhor do que qualquer droga, você se motiva, quer se tornar uma pessoa melhor, quer ser admirado/a, as músicas piegas começam a fazer todo o sentido do mundo, seu trabalho não é tão ruim assim, afinal depois de aturar o merda do seu patrão você vai encontrar a pessoa que faz aquelas borboletas voarem no seu estômago, tudo é tão perfeito, tão bonitinho, cada palavra nova que você percebe que ele/ela fala, cada gesto, cada vergonha, cada medo, cada olhar, cada imaginação, cada sonho, cada defesa de ideais baratos que se trocarão no tempo como se trocam meias, tudo é tão lindo! 
    Mas essa paixão tão bela, nunca vem desacompanhada, ela sempre traz uns amiguinhos! A insegurança, o medo, o ciúme, a irracionalidade, a burrice, a idiotice (sim, você se torna um/uma idiota) e as inevitáveis DRs terminadas em tentativas de homicídio passional.
    É normal que duas pessoas tenham opiniões divergentes, briguem, discutam, isso é muito saudável, ambos deveriam crescer com isso, agregar novos valores, aprender a olhar o mundo com de um ângulo diferente, o sexo de pazes é um dos melhores tipos, se não o melhor! Seria lindo se fosse dessa maneira, mas essas "brigas" que deveriam ser saudáveis, são, ao invés disso, abastecidas pela paixão. Sim, a paixão que é tão bela, mas que traz com ela vários sentimentos horrendos e a irracionalidade - é difícil ser lógico com todas aquelas borboletas querendo voar da sua boca e todos aqueles anjos e demônios falando no seu ouvido, ao mesmo tempo!

    O céu e o inferno estão diante dos seus olhos, você vai, em milésimos de segundo, de um extremo a outro, tudo fica cada vez mais confuso, você é uma criança, não de 9 anos, mas de 3, aquelas estudadas por Piaget, não sabe mais se o que está sentindo é bom ou ruim, é bom e é ruim ao mesmo tempo, mas isso é impossível, você está vivendo o maior paradoxo da sua vida e isto é muito claro, você quase pode toca-lo, você nem acreditava que aquilo existia, era só uma coisa inventada pela Disney, e por todas as outras pessoas que você assistia nessa situação e achava ridículo, com pouco sentido e nenhum cérebro. Agora você estava dentro daquilo, mergulhado/a até a moleira, e o pior! Você não quer um salva-vidas, você quer ir até o final, descer mais fundo, se afogar! 
    Você se afoga, sem arrependimento algum, você vira o Leonardo Dicaprio e se orgulha disso, é a única escolha que você fez na sua vida, aquilo que sente é a único sentimento que te faz sentir vivo e dono de si, dono até pra se entregar, que prazer mais egoísta, o de cuidar de um outro ser, mesmo se dando mais do que se tem pra receber, você fica bêbado e ouve aquelas músicas que o Cazuza teve que morrer pra conseguir escrever, tipo:



Dizem que tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de burro
Pra você sobressair



Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, Meu bebê



Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê



    Com tudo isso, você, estando no fundo do ralo, ou não, já passaram um bom tempo e essa paixão doentia, começa a diminuir. Agora você tem outro sentimento, paralelamente e naturalmente, foi crescendo uma coisa nada sofrível e totalmente nobre, o amor! Aquele sentimento que só vem acompanhado de amiguinhos bons, afeto, cuidado, estima, carinho, compaixão, preocupação, altruísmo, filantropia, positivismo, fraternidade... É nessa hora que vocês deveriam estar apaixonados, agora sim! Agora você já passou por cima de tudo, sua família já desistiu de que você é digno/a de alguém “melhor”, agora aquela amiga da escola dele já está gorda e com 5 filhos, agora você já sabe o presente perfeito, o lanche do mc donalds,  como acordar, como dormir, como pedir, como negar, quando falar sério, quando brincar, como insultar, como elogiar, como fazer ciúmes, como tirar o ciúmes, a dose de álcool indicada pra cada situação, agora vocês já conhecem o corpo um do outro como a palma da mão, interpretam cada sinal, cada olhar, cada insatisfação, cada suspiro, cada mentira, cada explosão, cada palavra, tudo!

    Agora é o momento perfeito, aquelas borboletas devem voar no ritmo da música que vocês dois sabem, cada nota, de cor. Aquele panamá de borboletas possui agora condições de voar na sincronia perfeita, fazendo um movimento aspiral ascendente, revezando umas com as outras, subindo na escala musical com o compasso perfeito que termina na nota mais aguda, no mesmo instante em que as borboletas vindo do outro ser chegam, com a mesma exatidão, no mesmo ponto do espaço.
    Seria, então, o momento sublime, o êxtase, o auge, o apogeu, aonde o fogo da paixão encontra a água do amor na quantidade perfeita para deixa-lo em brasas, sem apagar, mas também, sem condições de causar queimaduras graves. É neste momento que acontece o julgamento final, aquele que definirá se o fogo da paixão deixou somente o pó que sumirá totalmente com a água do amor, deixando o futuro como o tênis que deve ser jogado no lixo ou ainda existe lenha para ser queimada e transformada em adubo para os frutos que daí virão.


ps. Fui bonzinho no final pelo momento, mas geralmente acaba em desgraça!

ps.2  Porque mulher gosta tanto de sapatos?